GUTHRIE, Donald. GALATIANS, The New Century Bible Commentary (Gálatas: Introdução e comentário). Tradução: Gordon Chown. Mundo Cristão: São Paulo, 1984[1].
Esta obra é um comentário da Epístola do
apóstolo Paulo aos gálatas que segundo a editora tem como característica
principal ser mais exegética que homilética. Seu autor Donald Guthrie
(21/02/1916-08/09/1992) foi um britânico estudioso do Novo Testamento, tendo
sua formação pela Universidade de Londres (BD, Th.M., Ph. D.), tendo sua formação pela Universidade de Londres (BD, Th.M., Ph. D.), onde a partir de 1949 até sua aposentadoria em 1982 foi professor de estudos do Novo Testatmento nos Bible College (agora London
School of Theology).
Suas obras de maior impacto são: Introdução do Novo Testamento (1962) e Teologia do Novo Testamento (1981), que são reconhecidos como livros significativas relacionadas ao Novo Testamento.
Suas obras de maior impacto são: Introdução do Novo Testamento (1962) e Teologia do Novo Testamento (1981), que são reconhecidos como livros significativas relacionadas ao Novo Testamento.
Gálatas: Introdução e
Comentário, detalha de forma brilhante, sã e veemente sobre o conteúdo da
Epístola de Paulo aos gálatas, o contexto em que se inseri, a personalidade do apóstolo,
o estilo em que foi escrita, a ocasião, o propósito, sua importância para a
Reforma Protestante, os argumentos doutrinários de Paulo, suas exortações
éticas e destaca alguns relevantes comentaristas dessa valorosa Epístola que
indiscutivelmente é uma forte âncora para a história, base teológica e
fundamento espiritual do cristianismo.
Segundo Guthrie, esta Epístola, talvez mais do
que qualquer das epistolas paulinas, leva as marcas profundas da personalidade
de Paulo e está totalmente em harmonia com o que se possa esperar dele. O
apóstolo, sublinha Guthrie, inicia confirmando sua autoridade apostólica,
ratifica que o foco de sua crença esta na vitória de Cristo sobre a presente era
maligna e lança-se num ataque contra os judaizantes e não pode impedir-se
de pronunciar uma anátema contra eles. O conteúdo, nela exposto, pode
ser considerado como a carta magna da liberdade cristã e nesse sentido Guthrie realça
que enquanto seus ensinamentos forem obedecidos, o cristianismo jamais ficará
sujeito a qualquer tipo de servidão. Seu contexto remete ao ataque à autoridade
de Paulo e ao evangelho, onde para se defender o apóstolo usa os seguintes argumentos: torna clara a
origem do seu ensino (1:11, 12), relembra como Deus o chamou de uma carreira
bem sucedida no judaísmo para tornar-se um pregador do evangelho, descreve seus
contatos pessoais com os apóstolos de Jerusalém, relata sobre seu encontro
desafiador com Pedro, assevera que o principio da justificação pelas obras da
lei é fútil ao passo que a justificação pela fé em Cristo é adequada.
Donald Guthrie pontua que o argumento
doutrinário de Paulo é enfático ao afirmar que a justificação pela fé é
superior à salvação pelas obras. Esse amplo e plural argumento, vislumbrado da
forma como foram apresentados no livro de Guthrie, eleva o ensinamento de Paulo
a um plano cognitivo de extrema relevância para entendermos o conteúdo dessa
Epístola. Também, explana que Paulo aproveita o ensejo para fazer algumas
exortações éticas, abordando então a questão da vida cristã como uma vida de
liberdade, no Espírito e de responsabilidade com os outros.
Em referência especifica a Paulo, Guthrie
enfatiza que este jamais conseguiria esquecer sua vida anterior, mas o que mais
ficou gravado em sua mente foi a profunda mudança provocada por Cristo. Em 1:13
é revelado que Paulo era um adepto ardente do judaísmo, sendo este ardor que
causava sua violenta perseguição à igreja cristã e acreditava sinceramente que
com tais práticas estaria acumulando mérito diante de Deus, ou seja, o homem
que agora escreve à Galácia fora anteriormente um fanático, convicto que achava
que seu fanatismo honrava a Deus, sendo este o tipo de fanatismo, conforme
Guthrie, o mais perigoso, mas em seu novo momento, complementa o autor, Paulo fixa-se
em duas ideias revolucionárias que repentinamente se tornam claras para ele: sua
separação e seu chamamento (1:15,16), de modo que, o que mais profundamente o
impressionou foi a incumbência de pregar aos gentios.
Guthrie destaca que Paulo inicia a Epístola com
uma asseveração da origem divina do seu apostolado, esse fato é importante em
vista de estar claramente reivindicando igualdade com os apóstolos de Jerusalém,
haja posto que nem todos os pregadores eram apóstolos, mas Paulo mostra-se
consciente de ter recebido uma nomeação que podia até mesmo comparar-se à
daqueles que haviam convivido com Jesus. O autor assinala que a experiência
cristã de Paulo brilha em toda esta Epístola, de forma que sua chamada ao
ministério é acompanhada por uma percepção profunda do seu novo relacionamento
com Cristo, empregando o termo “servo” (1:10). Para Guthrie, Paulo é um homem
intensamente humano e afirma que quando este pensa em que os homens possam
pregar algum outro evangelho, não hesita em confrontá-los, entretanto o aspecto
mais saliente do caráter de Paulo vislumbrado nesta Epístola talvez seja uma
independência rude, especialmente quando desmente ter sido nomeado apóstolo da
parte de homens ou ter recebido deles o seu evangelho (1:1, 12,16).
Outro aspecto, sobre Paulo, abaliza o autor, é
a sua condição física, onde esta pode ter provocado algo de desagradável em sua
aparência, pois elogia os gálatas por não desprezá-lo (4:14). Além disto, sua referência
ao fato de que eles estariam dispostos a arrancar seus próprios olhos para
dá-los a ele (4:15) tem levado alguns a supor que sofria de oftalmia, inclusive
na conclusão da Epístola, assinala Guthrie, a alusão do apóstolo às letras
grandes com que escreve de próprio punho pode ser um indício da doença dos
olhos. Mas, também admite que possa haver possibilidade de Paulo estar
simplesmente usando uma figura de linguagem, que por sinal é uma constante no
escrito de Paulo, a citar: o olhar que fascina (3:1), a exposição de noticias
(3:1), a função do aio (3:24), a ilustração do parto (4:19), o jugo
(5:1), a competição esportiva (5:7), o fermento (5:9), o escândalo ou pedra de
tropeço (5:11), a ferocidade dos animais selvagens (5:15), a colheita de frutos
(5:22), o processo de semear e ceifar (6:7), a família (6:10) e o processo de
ferretear (6:17).
Ainda em relação ao estilo de escrever paulino
aparecem as perguntas retóricas (1:10). Nesse sentido, Guthrie explica
ser onde Paulo faz uma pergunta dupla, indagando se está procurando agradar aos
homens ou a Deus e a resposta é óbvia, embora Paulo sugira o resultado
forçosamente obtido no caso inverso.
Outro ponto a relevar, afirma Guthrie, é o fato
de que na igreja antiga nenhuma voz levantou-se contra essa Epístola e que o
cânon Muratório inclui a Epístola aos Gálatas em quinto lugar na ordem das
Epístolas de Paulo dirigidas às igrejas, e nenhuma dúvida é expressa quanto a
sua autenticidade, o que é pertinente se considerarmos os protestos da natureza
humana.
No que diz respeito a ocasião da
Epístola, é considerado o relacionamento que Paulo mantém com três grupos
diferentes de pessoas envolvidas na situação. A primeira consideração é o
relacionamento prévio entre o apóstolo e os leitores, sendo este um
relacionamento especial porque eram seus convertidos, pois pregara a eles o
evangelho e tinha por eles grande afeto. O segundo grupo com que se ocupou foi
o grupo apostólico em Jerusalém, onde nos dois primeiro capítulos ele se esforça
bastante para explicar seu relacionamento com estes, indicando assim a
probabilidade de sérios desentendimentos. O terceiro grupo era composto dos
mestres oposicionistas que parecem ser judaizantes, o apóstolo vê o movimento
deles como sendo escravizante.
Já a causa do problema era a insistência
na circuncisão para os crentes gentios e a garantia da salvação pelas obras. O
apóstolo considerava grave esta abordagem, porque ele a vê como um ataque
contra todo o conceito da liberdade cristã. A importância da circuncisão se dá
porque esta fazia parte integrante do sistema judaico. Era o sinal da aliança
e, portanto, envolvia a iniciação do indivíduo para ocupar uma posição de
privilégio. Além disto, ela havia sido ordenada no Antigo Testamento. Vale
ressaltar que, não existe qualquer sugestão de que estes judaizantes não
desejassem o melhor para os gálatas. Eles eram sinceros, perigosamente
sinceros, diz Guthrie, pois mostravam-se claramente ativos na propagação das
suas opiniões. Não há duvida que os judaizantes na Galácia eram pessoas
sinceras, acreditando honestamente que o melhor procedimento possível para os
gentios era serem circuncidados de modo a se tornarem membros genuínos do povo
da Aliança e leais seguidores do sistema legal judaico. Para os cristãos
judaicos parecia natural que os gentios devessem ser absorvidos pelo judaísmo.
Estavam tão condicionados a uma abordagem legalista que não enxergavam os seus
perigos e nem mesmo a ameaça fatal que ela representava para a existência do
próprio cristianismo. Paulo vê, porém imediatamente o perigo. Se os judaizantes
tivessem razão, o cristianismo não passaria de mais uma seita do judaísmo.
No que diz respeito a situação dos gálatas, não
existe dúvida de que os judaizantes estavam reivindicando autoridade
apostólica, quer tivesse ou não razão, pois Paulo se esforça ao máximo para
demonstrar que os apóstolos de Jerusalém estavam essencialmente de acordo com
ele.
Guthrie também analisa o destino da Epístola e
ratifica a sua relevância para a Reforma Protestante, especialmente nos
pensamentos e escritos de Lutero que na sua batalha feroz contra as doutrinas
papistas via nessa Epístola uma ilustração do seu próprio papel na situação.
Considerava os judaizantes como exemplos dos legalistas na religião e, portanto,
como exemplo de qualquer sistema religioso em que a aproximação de Deus tinha
como base exigências legalistas. Lutero sabia por experiência própria que o
sistema monástico representava uma escravidão tão grande quanto a situação
confrontada pelos gálatas. A justificação pela fé foi a resposta de Paulo à
situação deles e veio a ser igualmente a resposta de Lutero.
Por fim, essa Epístola pode ser vista como um
alicerce para o cristianismo e por sua importância despertou grandes análises
ao longo da história cristã e nesse ambiente Guthrie destaca alguns
comentaristas da Epístola de Paulo aos gálatas. Dessa forma, explana que os
comentários de Martinho Lutero, expresso no seu livro In Espistolam Pauli as
Galatas Commentarius publicado em 1519 com uma segunda edição em 1525, são
profundos e elucidatórios pois considera-se que Lutero tenha tido compreensão
verdadeira da essência da teologia de Paulo. Por outro lado Calvino, em 1539,
em sua manifestação intitulada Commentarii in omnes espistolas Pauli Apost,
apresenta uma capacidade exegética mais lúcida do que Lutero sendo seus
comentários menos afetados pelos seus sentimentos pessoais. Guthrie enumera,
ainda, outros grandes comentaristas da Epístola e datas de suas publicações, sendo
eles: Johann Albrecht Bengel (1742), Hery Alford (1849), Charles John Ellicot
(1854), Joseph Barber Lightfoot (1865), Sir William Ramsey (1900), Lukyn
Williams (1910), Cyril Emmet (1921), Hans Lietzmann (1932), George Ducan
(1934), Oepke (1937), Marie-Joseph Lagrange (1950), Bonard (1952), Hermann
Ridderbos (1954), Kenneth Grayston e Ragnar Bring (1958), Eric Wahlstrom
(1961), Herman W. Beyer (1962), Alan Cole (1965). Além desses autores e dos
seus principais livros datados do anos aqui expostos, houve também outras obras
de natureza mais geral como The Epistle to the Galatians an essay on its
Destination and Date (1899) de Askwith, The Date of St. Paul’s Espistle
to the Galatians (1906) de Round, St. Paul’s Fight for Galatia (1913)
de Watkin, The singular Problem of the Epistle to the Galatians (1929)
de Ropes, Paul end the salvation of Mankind (1959) de Johannes Munck, Paul
(1961) de Schoeps, Flesh end Spirit (1962) de William Barclay e Gálatas:
escritura da liberdade Cristã (1967) de Merril Tenney.
E encerra destacando que a Epístola de Paulo
aos gálatas deve ser considerada um desafio para todos os que fazem parte da
Igreja Cristã professa, no sentido de examinarem seus princípios básicos e toma
como exemplo o fato de que os judaizantes na Galácia podiam indicar a Lei como
seu padrão e esperar obediência à mesma, todavia, esclarece o autor, Paulo
substitui tal conceito com o fruto do Espírito, e já não apela para um código
legal, mas, sim, a um organismo vivo, pois não conseguia conceber como uma
abordagem formalista pudesse fazer parte de uma fé pessoal. Ele deixa
perfeitamente claro que a liberdade não deve ser usada como ocasião para a
carne (5:13). E não há outra resposta à delinquência crescente em nossos dias
senão a resposta encontrada por Paulo – a crucificação da carne, com as suas
paixões e concupiscências (5:24). Nesse sentido, Paulo vê o assunto como uma
questão de vida ou morte, e não hesita em empregar a franqueza de linguagem,
tão bem expressa na Epístola e tão seriamente abordada por Donald Guthrie.
[1]
Helô Santana. Cristã. Graduanda do Seminário
Teológico Batista Nacional – SETEBAN. Arte-Educadora,
Música e Fonoaudióloga Especialista em Voz.
Parabéns, Helô ! Por sua extraordinária capacidade de analise, organização e disciplina. Vc é uma multhiperprofissional de Jesus, mesmo !
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